sábado, 15 de agosto de 2015

O Sujeito que Escondi

São praticamente 3 da manhã e o meu sono interrompe-se, como em tantas outras noites. Sou noctívaga, amante do escuro, que parece ser o único local onde me encaixo. Acho estranho não me conformar com a minha felicidade quando é tão comum os outros não se conformarem com a de outrém. Mas, adivinha? Ninguém disse que eu sou normal.
Toda a minha vida vivi à sombra de tudo e todos, exceto em momentos menos bons porque, bem, aí os holofotes centravam-se em mim, como uma bailarina importante num palco. Contudo, não posso dizer que me arrependo das pequenas cicatrizes que carrego em mim desde aquele dia em que me tentaram esmagar a cabeça contra o chão. Não me arrependo do meu típico olhar de soslaio para quem não conheço e de duvidar de boas ações. Quando a esmola é grande, o pobre desconfia, e geralmente não me engano. Tenho pena, ainda hoje, de olhar para trás e perceber que eu poderia ter-me imposto e terminar com aquele bando de palermas e deixar de ser a sua mascote preferida para espezinhar. No entanto, o medo, aquele sentimento mesquinho, enjaulou-me e fez-me padecer longos anos.
Dos arrependimentos que carrego consta a pessoa fria que me tornei. Da desistente que sabe que consegue e que não tenta. Da nervosinha estranha que prefere estar calada a pronunciar-se, mas que quando se pronuncia dá merda. Do sentimento de raiva que acumulo... Da retardada social que não sabe socializar porque tem medo de confiar.
No fundo, sinto falta de ser a gorda zombada por ser, naturalmente, gorda e por não ter roupas giras e da moda. Sinto falta porque, naqueles momentos, era só eu o meu refúgio e não outras pessoas que se revelaram inúteis. Sofia... A tua mania de que tens intuição é uma farsa. Não obstante, gosto de como me pareço agora e de olhar para o que passei e rir-me ironicamente na cara de todos porque, afinal, eu não ia conseguir, não era? Então olhem agora. Vejam quem é a fraca! Digam que sou eu e eu rio-me na vossa cara e viro costas.
Ao contrário de muita gente, eu sou um livro fechado. Penetrar no meu mundo é uma violação e é o que provavelmente me torna uma pessoa infeliz. E é triste admitir que não sou feliz quando me tento convencer que sou e que digo que não o sou porque peço e espero demais. E se não é assim?
A escrever isto sinto-me patética por convencer-me. Eu não posso com a minha felicidade e tendo a arruiná-la. 
Esta sou eu. Pura e dura. 
Com a alma desnudada, com um aperto no peito e com vontade de um abraço que sei que vou arruinar.

1 comentário:

  1. Bem Sofia, que surpresa. Estranhamente sempre te achei uma pessoa extremamente feliz e amparada, sempre doce e com sorrisos para espalhar... Não esperava encontrar tanta escuridão escondida. Talvez porque acho que o teu sorriso tem muito mais para dar, talvez devas começar por ele. Vê nele um bom motivo para dares a volta, para esquecer quem te gozava e para seres realmente feliz, deixando o passado no lugar onde deve estar. Teria todo o gosto em conhecer-te melhor, sempre te achei uma querida. Conhece-te melhor também, Sofia!

    Beijinho.

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"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
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