segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Jaula

Eles dizem que somos abençoados. Que fomos dotados de uma capacidade estonteante de pensamento e discernimento. Que nos diferenciamos das máquinas pela capacidade cognitiva e pelo livre arbítrio. Então, como me posso sentir tão enjaulada? Eu não sou um leão feroz que dilacera humanos numa questão de minutos. Eu não mereço o medo que tenho porque eu tenho muito mais para dar. Não sou um guerreiro temido em todos os reinos, nem um bicho de sete cabeças para me manteres aqui num canto, com um pano por cima para ninguém me ver. E mesmo que quisesses, eu posso gritar porque a minha fala não me tiras. Não sou, tãopouco, uma máquina ou um computador que possas monitorizar, embora a formatação me agrade. Eliminar este vírus que é o medo seria meio caminho andado para conseguir realizar-me. Eu conheço a minha utopia e sei que não sou feita para formatar. Andarei, assim que puder, com todos os defeitos que carrego - e que são um grande fardo -, e irei aceitá-los como parte de mim porque perfeição só na natureza. E eu sou um caos à espera de solução.

sábado, 15 de agosto de 2015

O Sujeito que Escondi

São praticamente 3 da manhã e o meu sono interrompe-se, como em tantas outras noites. Sou noctívaga, amante do escuro, que parece ser o único local onde me encaixo. Acho estranho não me conformar com a minha felicidade quando é tão comum os outros não se conformarem com a de outrém. Mas, adivinha? Ninguém disse que eu sou normal.
Toda a minha vida vivi à sombra de tudo e todos, exceto em momentos menos bons porque, bem, aí os holofotes centravam-se em mim, como uma bailarina importante num palco. Contudo, não posso dizer que me arrependo das pequenas cicatrizes que carrego em mim desde aquele dia em que me tentaram esmagar a cabeça contra o chão. Não me arrependo do meu típico olhar de soslaio para quem não conheço e de duvidar de boas ações. Quando a esmola é grande, o pobre desconfia, e geralmente não me engano. Tenho pena, ainda hoje, de olhar para trás e perceber que eu poderia ter-me imposto e terminar com aquele bando de palermas e deixar de ser a sua mascote preferida para espezinhar. No entanto, o medo, aquele sentimento mesquinho, enjaulou-me e fez-me padecer longos anos.
Dos arrependimentos que carrego consta a pessoa fria que me tornei. Da desistente que sabe que consegue e que não tenta. Da nervosinha estranha que prefere estar calada a pronunciar-se, mas que quando se pronuncia dá merda. Do sentimento de raiva que acumulo... Da retardada social que não sabe socializar porque tem medo de confiar.
No fundo, sinto falta de ser a gorda zombada por ser, naturalmente, gorda e por não ter roupas giras e da moda. Sinto falta porque, naqueles momentos, era só eu o meu refúgio e não outras pessoas que se revelaram inúteis. Sofia... A tua mania de que tens intuição é uma farsa. Não obstante, gosto de como me pareço agora e de olhar para o que passei e rir-me ironicamente na cara de todos porque, afinal, eu não ia conseguir, não era? Então olhem agora. Vejam quem é a fraca! Digam que sou eu e eu rio-me na vossa cara e viro costas.
Ao contrário de muita gente, eu sou um livro fechado. Penetrar no meu mundo é uma violação e é o que provavelmente me torna uma pessoa infeliz. E é triste admitir que não sou feliz quando me tento convencer que sou e que digo que não o sou porque peço e espero demais. E se não é assim?
A escrever isto sinto-me patética por convencer-me. Eu não posso com a minha felicidade e tendo a arruiná-la. 
Esta sou eu. Pura e dura. 
Com a alma desnudada, com um aperto no peito e com vontade de um abraço que sei que vou arruinar.