quarta-feira, 10 de junho de 2015

Burning House

Falo com o meu silêncio. Censuro com o olhar. A minha voz mantém-se muda, sem querer dar a conhecer o que pensa. A cabeça abana da esquerda para a direita, num gesto pouco amistoso, e de forma involuntária. Não me preocupo com os estragos porque estragos em mim foram feitos. A cabana singela que construí foi derrubada e destruíram-me os canteiros de flores lilazes. Atearam fogo à mobília e esperavam que não me revoltasse. Tanto tempo aprisionada nas malhas dos receios fizeram-me cansar de meias palavras e de demasiado pensamento. 
Os Doberman soltam-se mal sentem o cheiro a fumaça. Correm em direção ao cheiro de humano e lançam-se à sua perna raivosamente. Não os impeço. Raiva é para ser descarregada. Fito-os no meu silêncio, pensando em milhares de assuntos ao mesmo tempo enquanto vejo a minha cabana a arder. Sinto-me metade humana metade diabo e deserto ali mesmo. O mundo é demasiado imperfeito e incapaz de trazer felicidade. Que aquilo que contruí morra como tudo irá morrer.

2 comentários:

  1. Que algures no mundo consigas encontrar um sítio para morar. Que consigas reconstruir a casa que tu és.

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"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
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