Há uma folha de papel em cima da mesa. Ela não está vazia. Demasiadas palavras, desabafos, tristezas e agonias preenchem-na numa caligrafia desajeitada e com falhas de tinta. São extratos de memórias, pensamentos e devaneios que a perfilam desajeitadamente. Não vais encontrar qualquer lógica e nexo causal ali. Não passam de pensamentos esporádicos e tristezas que ninguém quer ouvir. Tãopouco ler. São notoriamente trágicos e desinteressantes o suficiente para alguém se dignar a desvendar aquela caligrafia inconsolável. Aliás, ela nem sabe se quer que alguém a leia, mas expôs-se, na vã esperança que alguém a pegasse, percebesse as suas lágrimas e as suas mágoas.
Em vez disso, a folha foi rasgada em pedaços. As palavras desfragmentaram-se em breves segundos, mas as tristezas e os problemas permaneceram ali. Não foi por rasgar que tudo passou. Nem que ousassem apagar, tudo permaneceria imutável. Ninguém se deu ao trabalho de ler e, num ato de crueldade, os pedaços foram arrumados e queimados na lareira, carbonizando as palavras, a verdade, o ser... Enquanto a combustão domava aqueles insignificantes pedaços de papel, uma alma, do outro lado, entrava igualmente em combustão.
Há mil e uma maneiras de matar.
Gostei tanto :) parabéns*
ResponderEliminarA vida às vezes é injusta.
ResponderEliminarE todas essas formas nos magoam mais do que tudo.
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