quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O Legado

Mataram-me pela sinceridade. Condenaram-me ao fogo, prenderam-me os membros e convocaram uma vexame em praça pública com o objetivo de me intimidar. Mas a morte nunca foi um problema. Que queimassem o meu corpo, que me dilacerassem, que me atirassem aos cães, mas havia algo que eles nunca iriam tirar de mim. A minha alma. Nunca iriam conseguir preencher um frasco com ela porque não caberia e eu não permitiria que cavassem tão fundo em mim. Não importava que me matassem, que me condenassem, pois eu reencarnaria tantas vezes quanto pudesse nos corpos humanos e faria deles uma réplica de mim. Teriam tantos revolucionários como cavalos nas cortes.
Mataram-me por erguer a voz e bater com o punho na mesa. Pensam que acabaram com os da minha laia, mas há um legado algures escondido. Apenas precisam de uma força para se exibirem. Para levantar as suas vozes e protestarem, tal como eu fiz.
Procuro um corpo. É necessário outra voz. Esta vida é cruel, mas da crueldade surgem os grandes feitos e do esforço a mudança. Há um legado e eu vou procurá-lo.

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"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
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