quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Sombra

Não me atrevo a mover. Vejo a caneca de café fumegante mesmo no meu campo de visão, mas não me quero mexer. Não quero sentir o retesar dos meus músculos, não quero ouvir o estalido petulante, não quero sentir as minhas mãos em torno de algo que me faria revitalizar.
Estou enregelada até aos ossos. Tenho a ponta do nariz gélida, como se uma brisa glacial soprasse no interior do meu quarto, como se tivesse trespassado as paredes e me atingisse. Na verdade, estar exposta a um tremendo vendaval não me assustava. Assustavam-me bem mais os meus pensamentos. 
As minhas mãos começaram a tremer, seguindo-se todo o corpo numa dança involuntária que eu não conseguia controlar. Não havia ninguém para me auxiliar. Devia estar mais que acostumada a ser eu e a minha sombra. Não obstante, a culpa era inteiramente minha. Afastei-os a todos num estalar de dedos. Bastou um erro não premeditado para ter derrubado o castelo de areia que eu tinha construído. Tentei ultrapassar, juro que sim, juro que tentei erguer-me, mas havia sempre alguém que fazia questão de me dizer: "Não prestas.", "Só fazes as pessoas sofrerem.", "Mereces o dobro daquilo que estás a passar.". E eu, tola, ingénua, acreditei piamente deixando-me engolir pelas palavras que a minha própria mente ditava. 
Não me resta mais nada. Nada para além da minha sombra. 

-fictício-

5 comentários:

  1. acho que de certa forma, todos nós usamos uma máscara...

    ResponderEliminar
  2. De uma coisa podemos ter a certeza a nossa sombra pode aparecer de vez em quando mas tá sempre connosco
    Beijinhos e não tens que agradecer ;)

    ResponderEliminar
  3. Chatear??? Minha linda, adoro a tua companhia e na verdade tu é que levas com as minhas chatices. Bjs

    ResponderEliminar
  4. "Na verdade, estar exposta a um tremendo vendaval não me assustava. Assustavam-me bem mais os meus pensamentos."

    Exato :) Os nossos pensamentos são assustadores, a consciência assusta, aquela nossa consciência humana de ter consciência. As coisas que pensamos e não devíamos pensar, todo o lixo que deixamos entrar na nossa vida e não deviamos deixar. Excelente texto, Hayley.

    ResponderEliminar

"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
Aviso: Não se aceitam comentários que não se relacionem com o post. Obrigada pela compreensão.