terça-feira, 13 de novembro de 2012

Odnum - Crítica à Sociedade


Tapam-nos os ouvidos para que não ouçamos e os olhos para que não possamos ver as crueldades que se abatem sobre o nosso mundo. E que mundo este, onde se privilegiam as mentiras e os roubos e se crucificam os gestos de bondade e amor. E vós, que vos arrogais deuses deste mundo (como se deus algum quisesse governar a miséria em que se tornou a vida humana) são incapazes de ver os vossos próprios actos. Miseráveis. Como se não bastasse arrancarem-nos os ouvidos e venderem-nos os olhos ainda nos querem arrancar o coração que bombeia esperançoso perante a luz ténue de um novo amanhecer. Quem sois vós afinal, tristes deuses corruptos que ambicionam mais do que podem e roubam mais do que devem? O poder cega-vos e vocês deixam-se cegar por ele, quais tristes marionetas. Onde está a divindade afinal? Não está. A espécie humana é demasiado corrupta e pouco humilde. 
Sou assim obrigada (por ainda ver e ouvir) a fazer-vos o retrato da cegueira e surdez. No topo está a Sombra, que nada diz mas obedece a tudo tal como um reflexo que nos imita no espelho. Apesar de ser quem, de facto, tem maior poder, é também quem mais corrompe. O que diz não passam de mentiras e todos os seus gestos são falsos e livres de originalidade. A seguir à Sombra vem o General . Esse muito trabalha nas suas tentativas de remendar o irremediável. Lá passa os seus dias, rodeado dos seus Comandantes e Tenentes no navio atracado na capital, metade do tempo a ouvir insultos e a outra metade a fingir que não os ouve. Ainda para mais agora, que o General está de casamento marcado com a Viúva-negra, essa aranha trazida de fora por um qualquer vento de injustiça. 
Seguem-se os Anjos Negros, os “desgraçados” que em nome da profissão se vêem obrigados a defender a triste hierarquia que teima em pôr fim ao que resta dos nossos dias. Há no entanto, sempre um ou outro Anjo Branco que no seu abraço carinhoso derrete corações e os chama à razão. É a nossa sorte (a sorte de todos). 
E quem somos nós? Os Cegos, os Surdos e os Fracos. Deixámos que o destino das nossas vidas caísse nas mãos erradas com as nossas escolhas erradas. Se a Sombra não presta, se o General é corrupto e se há Anjos perdidos na escuridão foi porque nós, os Cegos, os Surdos e os Fracos assim o desejámos. Dizem que quem semeia ventos, colherá tempestades. E nós, a cada dia que passa, aproximamo-nos mais de sacos de ossos e terra ambulantes e afastamo-nos cada vez mais da imagem de perfeição que deveríamos alcançar. Somos nós os culpados. Por nos deixarmos cegar e ensurdecer, por deixarmos que as mentiras brinquem diariamente ao carnaval no nosso coração, impedindo-nos de dizer  “Basta”. 
Eis a solução: abramos os olhos, não tapemos os ouvidos. E principalmente, endureçamos os corações. Não os transformemos em gelo, mas não deixemos que sejam apenas de carne. 

1 comentário:

  1. Nem mais tudo o que temos agora é graças as decisões de cada membro da sociedade :)

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"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
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