quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Os Últimos Dias na Terra - Parte 2

Encaminho-me até à cozinha e espreito para o exterior. Pequenas nuvens acinzentadas e a uma elevada altitude preenchem o céu outrora resplandecente. Estendo a roupa que tinha lavado no dia anterior, aproveitando assim o forte vendaval para a secar, e preparo o pequeno almoço para Ava e Ben que deveriam estar a reclamar por mais uns minutos na cama. No entanto, as sete e trinta aproximavam-se inexoravelmente e mesmo que um terramoto se abatesse sobre a região aqueles dois nunca iriam acordar. Decidi chamar primeiro Ben que raramente dava conta quando eu saía da cama. Abri o estore deixando a claridade obrigá-lo a descerrar as pálpebras. Resmoneou continuamente até que viu que não tinha qualquer hipótese a não ser levantar-se. Os seus grandes olhos azuis fitaram os meus e arqueou os seus lábios carnudos, sorrindo. 
– Horas de acordar?
– Sim, horas de te levantares e ir trabalhar, Ben. Vá, daqui a uma hora tens de estar no estúdio. Põe-te bonito.
Ben solta uma gargalhada e num gracejo, diz:
– Eu sou lindo!
Saio do nosso quarto e entro no quarto de Ava. Para não variar, o seu quarto está completamente desarrumado. Revistas a servirem de tapete, roupas penduradas nas costas das cadeiras, outras espraiadas no soalho e ténis em cada canto do quarto. Respiro fundo para não barafustar com ela logo de manhã. Transponho habilmente os pequenos obstáculos e afasto os longos cabelos castanhos do seu rosto angelical. Dormia profundamente e embora tivesse pena de a acordar, tinha de o fazer. Abano-a lentamente e ela começa a abrir os olhos.
– O pequeno-almoço está servido. Veste-te num instante. Hoje o teu pai vai-te levar ao liceu. – Ela olhou para mim com ceticismo por eu não ter ainda tecido um único comentário acerca do estado do seu quarto. – Ah! Quando chegar a casa quero ver este quarto impecável. 
– Tudo bem, desejo concedido, madame– Brincou ela, levantando-se e encaminhando-se para o seu roupeiro.
Abandonei o quarto e retornei à cozinha, devorando as torradas e o sumo de laranja juntamente com Ben.
– Não vamos passar a noite de Natal a casa da minha mãe este ano. – Disse ele abruptamente.
– Podemos passar aqui. Só nós os três. – Sugeri, debicando a torrada.
Ele sorriu e afagou-me a mão.
– Não, este ano vamos viajar. Sempre quiseste ir a Barcelona, não é verdade? Passaremos lá uns dias. Eu já tratei de tudo. Garrett irá substituir-me durante esse período de tempo e tu podias também falar com Sally. Aposto que ela te concederá mais uns dias de férias. –  Fez uma pausa e procurou as palavras certas para me persuadir ainda mais. – Pensa em Ava que nunca saiu do país! Com certeza que irá adorar!
– Sair do país? Oh! Se há coisa que eu mais quero é conhecer outros locais do mundo. – Opinou Ava que se juntou a nós. 
– Tudo bem, eu posso falar com Sally, mas não prometo nada.
– Ela vai ponderar e vai conceder-te as férias, não te preocupes. – Aventou Ava, extasiada.
O telemóvel de Ben começou a tocar. Como de costume, afastou-se de nós para atender a chamada. Continuamos a negociar a viagem até que ele voltou até nós. Exibia um semblante consternado, como se algo se tivesse passado. 
– O que foi? – Inquiri, curiosa.
– Aparentemente algo não bate certo no centro de pesquisa. Certamente hoje não me verão a apresentar o boletim do estado do tempo. Precisam de mim para analisar uns dados e ao que parece é importante. Ava, despacha-te. Em quinze minutos tenho de lá estar.
Ela bebeu de um só hausto o sumo natural que tinha no copo e colocou a mochila ao ombro. Ambos me acenaram, saindo logo depois. Fiquei a arrumar a cozinha enquanto não era hora de sair para ir trabalhar. Minutos antes de sair, as nuvens adensaram-se de tal forma que a manhã ficou cinzenta, apocalíptica e grossas gotas de água atingiam o asfalto e o solo seco. Estranhei aquele fenómeno. Estaria alguma coisa a passar-se? Se Ben era necessário no centro de pesquisa é porque algo de sério se passava. Estaríamos em perigo iminente de sermos atingidos por tufões múltiplos ou tempestades fortíssimas? A considerar pela mudança abrupta de estado do tempo não duvidava, mas preferia esperar pela resposta de Ben. Se algo de sério se estivesse a passar, ele relatar-me-ia tudo ao jantar. 

Capítulo anterior aqui

6 comentários:

  1. Premonição do Apocalipse? Falso alarme?
    Adorei as novas personagens que entraram em cena e quero muito saber o que se está a passar :D

    ResponderEliminar
  2. Omg! Estás a relatar algo tipo 2012!? Oh god *.*
    E estou a adorar darling! E já agora pensa naquilo que te disse sobre o palavreado, sim? Kiss, Kiss! E vou seguir esta historia sem duvida alguma

    ResponderEliminar
  3. Valeu a pena esperar por este novo capítulo! Sabes que sou super fã do que escreves e esta pequena história não é excepção! Continua, continua :)

    ResponderEliminar
  4. O que é que se vai passar :O?

    ResponderEliminar
  5. ahah, foi óptimo, agora é que aquilo está perfeito! :p
    aww, obrigada :D

    ResponderEliminar
  6. A sério, adoro mesmo aquilo que escreves. A tua maneira de colocar as coisas faz-me tantas vezes abandonar o local onde me encontro para estar ao lado das tuas personagens a visualizar e a viver a história delas. É fenomenal Hayley, muito obrigada por isso =)

    E obrigada pelo teu comentário. Fico feliz por saber que não sou a única eheh ^^
    Ah e espero que esteja a correr tudo bem lá com as tuas aulas de código e condução. Espero um post sobre isso ou assim, está bem? xD

    Beijinhos*

    ResponderEliminar

"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
Aviso: Não se aceitam comentários que não se relacionem com o post. Obrigada pela compreensão.