sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Ali Jaz

Ali jaz a alma do corpo que ali jazia. Ficaram apenas ínfimos restos daquilo a que costumava ser uma vida em pleno movimento e pensante. Ficaram as memórias, a nítida imagem e o pesadelo. Aquele local conta a história. A história de um infeliz que achou que a morte era o caminho. De facto, a morte é um caminho se tiver de acontecer, mas quando é precipitada, é um imenso buraco negro supermassivo onde se divaga, e divaga, por entre fortes marés sem nunca chegar a terra.
A chuva lavou o que restou. Se vejo alguma coisa? Nada para além de um corpo inanimado, coberto. Se me relembro? Oh, sim. Foi o tormento das minhas noites, preenchendo aquele corpo com outra alma querida. Mas dizem que a vida é assim, não é mesmo? Que nascemos para morrer, como se as sensações, as experiências, aquilo que acontece, fosse algo plenamente irrelevante. 
Eu nasci para permanecer em cada pétala de rosa. Nasci para encarnar num lobo, para dominar uma manada, para deixar o meu legado. Não deixarei as coisas em vão. Mesmo que o meu corpo fique ali, eu renascerei em cada mente onde plantei uma semente, serei memória viva em cada um deles. E ao olharem para qualquer elemento da natureza, quero que se relembrem "Ali jaz". Que repitam o meu nome baixinho e não deixem nenhuma lágrima escapar.

3 comentários:

  1. Nunca ninguém morre. Alguém irá relembrar, manter vivo.

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  2. Exatamente como a Cláudia diz: nunca ninguém morre, haverá sempre alguém a mantê-lo vivo através das memórias. :)

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"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
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