sábado, 18 de janeiro de 2014

Hannibal

Querido Hannibal,

Sinto falta das noites sádicas naquela cave. Onde o mundo era putrefacto e ninguém se importava. Sinto falta dos nossos rituais - do silêncio dali e dos olhares atentos que lançavamos a cada elemento ali presente, prontos a adquirir qualquer laivo de conhecimento. Os teus ensinamentos eram qualquer coisa de transcendente.
Querido Hannibal, volta ao trabalho e enche-nos de ensinamento. Sei que parece uma prece, mas sinto a tua falta todas as noites. E sonho com cada cirúrgia, com o paladar agridoce na minha boca e anseio por mais.Talvez tenhas dado um rumo à minha vida que eu julgava não ser possível. Mas, Hannibal, eu sei que te peço para voltares mesmo sabendo quão impossível isso é. Entristece-me saber que estou por minha conta, que não te tenho para me desvendar a mente, que não tenho sequer o teu apoio e um ombro para chorar. Achavam que eras insensível, mas a tua sensibilidade marcava-me vincadamente o espírito. 
Recordo-me dos nossos jantares. O apanágio do sabor. Os sorrisos vincados perante tanto sarcasmo. E ninguém nos percebia. Ninguém percebia o que estávamos a tentar fazer. Nós trabalhávamos bem juntos, Hannibal. Por que deixaste-te ir?
Hannibal, querido, não me aches louca. Pensa que a loucura é apenas um estado de mente e não demente. Talvez fôssemos os dois, e daí? Éramos felizes à mesma.
Não espero uma resposta, mas volta. Sinto a tua falta, Hannie. Ainda há música em nós.

G.

2 comentários:

  1. Bem .. :o que texto! Arrepiou-me juro. Lembrou-me o filme do Hannibal que simplesmente odeio .. Mas o teu texto está qq coisa de .. demais? Adorei!

    Já estou a seguir! *

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  2. Porque será que a sinistralidade daquilo que escreves me dá um prazer enorme de te ler? Adorei! Está simplesmente fantástico! :o

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"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
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