Homem Inverno

Tu sabes quais as palavras que mais depressa atingem um ser-humano que se sente já vulnerável. Utiliza-las com uma perspicácia que me aflige a alma e o corpo. E, pior que tudo isso, sabes quais as palavras que me afagam o coração e o fazem palpitar como se não houvesse amanhã. Talvez seja apenas uma das coisas melhores de ti para mim.

Percebes o que me desconcerta a alma e a consciência. Mas sabes também o que desassossega a minha alma pacífica quando estou a ti entregue. Sabes que eu sou o teu reflexo e tu o meu, numa miscelânea de sentimentos e emoções.

Também eu sei o que te desassossega a alma e te torna o olhar turvo. Tomara eu tantas vezes não pisar a ténue linha. Tomara eu que fôssemos apenas duas almas, entregues unicamente um ao outro, e que não existisse nenhum outro ser que pisasse as nossas terras.

Talvez sejas o Inverno também. O gelo que cobre subtilmente o oceano ou então o icebergue que flutua livremente pelas águas. Ou então talvez sejas o vento glacial que me atravessa vorazmente. Não só aquela leve brisa de Verão que me aquece o corpo e a alma. Talvez sejas todos os elementos da Terra num só. E toda a gente sabe qual o encanto de alguém ser assim, ou melhor, eu sei quanto me encantas em ser assim.

 Talvez eu te veja em mim. Talvez sejas a outra metade que faltava para completar o meu lado mais invernoso e despoletar em mim o Verão. E depois de tantos "talvez", eu sei que o Verão ainda reina, que o Outono em ti tem o mesmo encanto e que o Inverno vem apenas solidificar o que tem sido cimentado. Resta-nos agora a Primavera, Homem Inverno.