Lavo as minhas mãos e purifico a minha alma. Ela escorre-me pela polpa dos dedos e retorna ao local de onde veio. Não me quero desculpar de nada. Apenas não é da minha conta.
Sento-me no trono e puxo os meus cachos para trás. Quase me sento em cima deles e os amachuco mas nada me dará mais prazer que penteá-los ao doce sabor do vento, na varanda, esta noite. Deverei saborear cada momento ao recordar-me da tua própria crucifixação. Aquela que tu mesmo planeaste sem dar conta.
Ouço as vozes iradas, entusiasmadas e vejo crianças esconderem-se debaixo das saias das progenitoras e sinto que me devo preocupar com tal atrocidade. Mas lavei as minhas mãos e não faz parte de mim escolher caminhos alheios.
A confusão faz-me saborear a vida. Os gritos. O prazer. A crueldade. Tais aromas perfilam a minha vida dando-lhe um sabor intenso que só eu sabia dar o devido valor. E gosto do sangue que agora escorre dos teus olhos por arrependimento. Mas é demasiado tarde, querido. Demasiado tarde para arrependimentos. Demasiado tarde para fingirmos que somos jovens na flor da idade.
A lágrima escorre mas depressa a limpo. Não há arrependimento.
Wow. Simplesmente wow.
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Diz-me muito. Muito mesmo.
Gostei do teu texto. Tem uma carga muito dramática mas poderosa! :)
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