sexta-feira, 26 de julho de 2013

Congela-me

Permito-me repousar. Tudo é tão fresco e sereno aqui. Parei o tempo e não quero que ele volte a contar. Apenas eu me movo. Os meus olhos tentam absorver cada pedaço do que me envolve e a polpa dos meus dedos percorre lentamente o teu antebraço como se fosse um instinto. Mas estás vidrado, como se a morte tivesse ceifado o corpo, a alma... Tudo. Aí recuo e penso quão infantil e perversa a minha mente se tornou. Acreditar no inacreditável. Sentir o que não se deve sentir e pensar aquilo que não se deve pensar. 
Outro instinto. Paro. Escuto e não ouço absolutamente nada. Deixo o corpo jazido nas ervas e dou um salto. Eu não quero parar o tempo. Quero que ele volte a contar como deveria ser. As leis da física não podem ser alteradas e nem as leis do destino devem ser modificadas. Mereço o Inferno, na sua magnificência incandescente que atrai tantas almas penadas. Mas não sou uma delas. Parei o tempo, paguei o preço da minha ganância e não quero que ela continue a pronunciar-se.
E dou voltas e mais voltas à minha cabeça. Não quero voltar a ver aquele corpo. Não quero voltar a congelar o tempo. Não quero que as palavras brotem da boca como se fosse verdade. Não quero que a minha condenação tenha um autor pela qual arrisquei tudo. Sei os meus pecados e não pretendo que me ilibem deles. Apenas quero a paz eterna na minha alma.
Permito-me repousar novamente. Acordo-te e toco-te na mão. Agora tens tu o poder. Congela-me no tempo. Deixa-me aqui, imóvel, com aquela roupa que tanto gostas. Todos os deuses estão a observar-nos. É a vontade deles. Devemos respeitá-la.

4 comentários:

  1. Finalmente decidi passar por aqui!
    Gostei bastante do que li, vou passar mais vezes aqui, com certeza, para ler mais!
    Isto é, definitivamente, o tipo de texto que gosto.

    Está óptimo, Hayley!

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  2. adoro a forma como escreves e neste texto gosto muito da vertente fantasiosa :')

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  3. Adorei completamente. É sensual a forma como falas para ele :)

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  4. Cada vez que aqui venho gosto mais o que leio. Continua, Hayley, enche-nos com a tua poesia, com os contornos das tuas palavras, com o poder dos teus sentimentos, com valor da tua escrita. Escreve, e encanta, como tens feito há muito. Obrigada por nos permitires ler-te! :)

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"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
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