sábado, 1 de junho de 2013

A Imperatriz e o Diabo

Talvez não passemos de almas perdidas cujo Norte foi roubado. Talvez os vales, as encostas e o topo das montanhas de todo o mundo sejam pouco para nós. Fizemos tantas vezes o mesmo caminho que os meus pés doem e os meus ossos estremecem violentamente. Mas não preciso de ajuda, compaixão, orações e velas para me voltar a encontrar. Talvez tu precises de te orientar, de todas as orações e rogos para que te possas salvar. Eu não. Tu estás condenado.
Pensa que um dia eu fui a Imperatriz e tu o Diabo naquelas cartas que a mulher desgrenhada teimou em votar. Olhavas tão abismado para elas que um misto de vergonha e surpresa te inundavam o semblante outrora tão jovem e revitalizante.
Recorda-te dos abraços, dos beijos infinitos onde pareciam ter passado apenas milésimos de segundo, da pele de galinha... de uma enormidade de coisas que foram levadas demasiado cedo. Ou tardiamente. Não sei muito bem.
Agora somos apenas almas. Almas na floresta que atemorizam, que ainda recordam, que ainda contam histórias, que ainda juram amor e tentam aproximar mas não lhes é permitido. Somos corpos que levitam mas pensam que são ainda humanos, na flor da idade, onde tudo parece correr bem. Ah! Quanto me culpo por pensar que tudo teria um bom final. Que o mundo tinha sido criado para nos temer e não ao contrário.
Mas tu és o Diabo e eu a Imperatriz. Melhor dizendo, tu continuas a ser o Diabo mas eu não sou a tua Imperatriz. Estou livre. Estas montanhas não me dizem mais nada. Sou um corpo despedaçado da tua alma e da minha fraqueza. Sou uma alma cheia de incertezas cujo Norte foi roubado.
Talvez parta para Sul. Talvez deixe a Terra e me torne no Sol. Sim, o Sol. Talvez incorpore nele e seja luz para alguém.

3 comentários:

  1. Adorei a última frase... que nunca te falte a força e a coragem!

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  2. Cada vez gosto mais da tua escrita, Hayley! Houve algo que mudou em ti, mas que nada tem de negativo, é uma mudança boa, e que eu gosto mesmo muito! Adorei o texto, adoro a maneira como te expressas!

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  3. e como já não vinha cá por bastante tempo, hoje tive de ler tudo o que deixaste neste canto. mas este texto, ah este texto destacou-se de todos os outros. que encanto de história, com tal maestria de "obscuridade", como tantas vezes me disseste.

    "Agora somos apenas almas.(...)Ah! Quanto me culpo por pensar que tudo teria um bom final. Que o mundo tinha sido criado para nos temer e não ao contrário." adorei, é isto que me fascina, esta linguagem e decoração. beijo :)

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"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
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