domingo, 26 de maio de 2013

Talvez

Vês beleza no olhar de quem te vê. Vês a natureza florir, desabrochar e ostentar toda a sua riqueza e finges não querer ver o que os outros vêem. Talvez porque não és como todos que se alimentam da metafísica, da subjetividade e da utopia. Talvez porque ninguém tem de viver num mundo ideal e não encarar aquilo a que, ingenua e infelizmente, apelidamos de realidade.
Sentes um leve frémito na polpa dos teus dedos. Finca-los na areia e procuras aquilo que muita gente procura e não encontra, embora não saibas muito bem o quê e por onde começar. Talvez estejas perdido algures na imensidão das incertezas e das dúvidas que também me invadem tantas vezes e tento não deixar transparecer.
Vês a noite abater-se sobre os corpos deambulantes e questionas porque se movem. Questionas o movimento dos planetas e o aparecimento das estrelas e do universo. Questionas porque ele se expande continuadamente. Não procuras respostas. Não sabes exatamente o que queres: se queres saber ou se queres permanecer na doce ignorância. Queres saber a resposta dos mistérios quando sabes que eles não são feitos para serem desmistificados mas para nos embrenharmos neles. Queres perceber cada pontada no teu peito. Queres saber o que te desconcerta quando me desconcerta também. Queres as coisas como elas são, na sua essência, sem artificialismos, sem formas alternativas. 
Talvez se encontrem as respostas ou então as questões deambularão pelos vales, à noite, enquanto uma alma perdida dança ao sabor do vendaval.

2 comentários:

  1. Obrigada :') e este teu texto está lindo!

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  2. Ora, muito obrigada. Já passou algum tempo desde do teu comentário, não tive oportunidade de agradecer mais cedo, mas é bom saber que apreciaste. Isso já me vale bastante. Quanto ao teu texto, acho que todos nós já tivemos momentos assim: e agora, fica-se na ignorância ou enfrenta-se a realidade? Às vezes seria bom conseguirmos escolher, não achas? Contudo, no fim do dia, penso que iria sempre quer saber. A ignorância é uma coisa muito difícil de se lidar, mas também é verdade que falta sempre um pouco dela da nossa vida para que seja possível apreciar, viver, respirar sem preocupações. Viver um pouco mais, um pouco mais profundamente. Ouve, tu escreves que é uma maravilha. Lê-se e fica-se de alma cheia. Deixas uma marca, provocas um turbilhão de ideias. Acho isso muito bom, dá vontade de vir cá sempre! :)

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"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
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