segunda-feira, 20 de maio de 2013

A Little Piece Of What I Do

Gostariam de dar uma espreitadela a um novo livro que estou a tentar fazer? Neste link têm aqui um outro pedacinho que deixei. Sei que não é propriamente aquilo que estão acostumados a ler da minha parte, mas gostava de saber o que realmente pensam. 
Apenas posso adiantar que se trata de um drama e que poderá conter romance. Podem ser sinceros que eu prometo não morder. 

"Karina concordou e, nas duas horas seguintes constatei que o medo que tinha alimentado desde o início era apenas uma forma de me amedrontar. A minha família falava comigo com normalidade, evitando tocar no assunto que iria acompanhar-me durante toda a vida. Os meus primos mais novos falavam para mim sem qualquer resquício de preocupação em terem uma prima com um historial menos comum. A única pessoa que permanecia reticente em falar-me era a minha avó. Já deveria estar habituada ao seu génio peculiar e à sua constante consternação sobre os falatórios das redondezas. Aposto que o facto de não se aproximar de mim se devia única e exclusivamente ao ressentimento pelo seu nome estar diretamente envolvido comigo.
            Parei de mordiscar o éclair e dirigi-me até ela.
            Apesar de ter um rosto angelical, branco, de cabelos louros e volumosos que lhe caiam até meio do pescoço, todos sabiam que ela conseguia ser bem mordaz quando queria, o que era quase sempre. Desde tenra idade que não tínhamos uma relação harmoniosa que eu costumava justificar com o facto de os nossos nomes se referirem a estações do ano claramente opostas. Ela era Summer e eu Winter.
            Aproximei-me lentamente dela e vi que já me olhava de esguelha, com toda a censura empolar-lhe dos olhos esverdeados. Mesmo assim avancei. Ela não teria coragem para me entristecer quando todos tinham reagido minimamente bem assim que me viram e falaram comigo.
            – Olá, avó. – Cumprimentei num tom de voz neutro.
            Ela olhou-me de soslaio como se não me conhecesse de lado nenhum e não me respondeu. Arrependi-me naquele preciso momento de ter ousado duvidar das suas capacidades malévolas.
            – Espero que goste da festa. – Acabei por dizer com a raiva a inflamar-me rápida e vorazmente.
            Voltei-lhe as costas até que ouvi-a tossir. Tornei a olhar para trás e vi que para além de ter-se sentado no cadeirão, parecia estar disposta a falar. Aproximei-me novamente.
            – Como tem estado? – Inquiri num tom de voz veludoso, denunciando que estava disposta a esquecer os nossos momentos menos bons do passado.
            – Bem. – Respondeu, monocordicamente.
            Assenti e fiz um esforço para sorrir. Estivemos uns minutos em silêncio, a olharmo-nos como se esperássemos alguma coisa e quando eu estava prestes a dar a conversa por terminada e a ir-me embora ela voltou a falar.
            – Pelo menos estás arrependida? – Interpelou de uma forma mordaz, cirúrgica.
            Mantive-me em silêncio. Em choque. Estava a tentar não acreditar na pergunta que me estava a fazer.
            – Responde-me. Estás arrependida? – Continuou sem um laivo de misericórdia no seu olhar glacial.
            – Porquê agora? – Perguntei com uma voz trémula. – Acabei de chegar.
            – Não invalida o que fizeste. Espero que te tenha servido de lição. – Adquiriu um tom duro. – Não fazes ideia do quão afetados fomos. Na missa todos me olhavam de lado. As velhotas do banco da frente zombavam fortemente de mim como se tivesse sido eu a errar crassamente. O dono do café que costumava frequentar parecia nem sequer querer olhar na minha cara. As conversas com as minhas amigas espaçaram-se até que se extinguiram por tua culpa. Sabes que mais? Não acho que ninguém esteja plenamente feliz por voltares. É simpático dizer e fazer de conta, mas todos sabem que os problemas estão para vir. Mais do que os que tinham até à data.
            Senti o mundo abater-se sobre mim bruscamente. Eu sabia que dela não viria nenhuma palavra carinhosa e muito menos um afago. Mas aquilo tinha excedido todas as conjeturas pejorativas que lhe costumava tecer.
            Olhei à minha volta e enxerguei os rostos. Quantos estariam realmente gratos pelo meu retorno? Mirei Jeremy. Estava sorridente, mas não era aquele sorriso encantador com que me recebia nas viagens dos escuteiros onde permanecia alguns dias fora. Karina parecia, naquele momento, triste. Podia ser por Harold, podia ser por causa de mim. O facto de não ter-me visitado podia ser para desviar as atenções e ela até tinha adquirido o último nome de Harold. Talvez fosse para não ser relacionada comigo. Os mais novos não sabiam sequer as verdadeiras razões de eu me ter ausentado durante quase três anos. E os meus pais talvez não estivessem assim tão felizes. A minha avó tinha razão. Eu tinha sido uma geradora de problemas e continuaria a sê-lo."

2 comentários:

  1. Uau! Escreves muito bem, gostei muito! Esse é um livro que estás a pensar editar?

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  2. Estou realmente curiosa para saber o que daí vêm!

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"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
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