Gostariam de dar uma espreitadela a um novo livro que estou a tentar fazer? Neste link têm aqui um outro pedacinho que deixei. Sei que não é propriamente aquilo que estão acostumados a ler da minha parte, mas gostava de saber o que realmente pensam.
Apenas posso adiantar que se trata de um drama e que poderá conter romance. Podem ser sinceros que eu prometo não morder.
"Karina concordou e, nas duas horas seguintes
constatei que o medo que tinha alimentado desde o início era apenas uma forma
de me amedrontar. A minha família falava comigo com normalidade, evitando tocar
no assunto que iria acompanhar-me durante toda a vida. Os meus primos mais
novos falavam para mim sem qualquer resquício de preocupação em terem uma prima
com um historial menos comum. A única pessoa que permanecia reticente em
falar-me era a minha avó. Já deveria estar habituada ao seu génio peculiar e à
sua constante consternação sobre os falatórios das redondezas. Aposto que o
facto de não se aproximar de mim se devia única e exclusivamente ao
ressentimento pelo seu nome estar diretamente envolvido comigo.
Parei
de mordiscar o éclair e dirigi-me até
ela.
Apesar
de ter um rosto angelical, branco, de cabelos louros e volumosos que lhe caiam
até meio do pescoço, todos sabiam que ela conseguia ser bem mordaz quando
queria, o que era quase sempre. Desde tenra idade que não tínhamos uma relação
harmoniosa que eu costumava justificar com o facto de os nossos nomes se
referirem a estações do ano claramente opostas. Ela era Summer e eu Winter.
Aproximei-me
lentamente dela e vi que já me olhava de esguelha, com toda a censura
empolar-lhe dos olhos esverdeados. Mesmo assim avancei. Ela não teria coragem
para me entristecer quando todos tinham reagido minimamente bem assim que me
viram e falaram comigo.
–
Olá, avó. – Cumprimentei num tom de voz neutro.
Ela
olhou-me de soslaio como se não me conhecesse de lado nenhum e não me
respondeu. Arrependi-me naquele preciso momento de ter ousado duvidar das suas
capacidades malévolas.
–
Espero que goste da festa. – Acabei por dizer com a raiva a inflamar-me rápida
e vorazmente.
Voltei-lhe
as costas até que ouvi-a tossir. Tornei a olhar para trás e vi que para além de
ter-se sentado no cadeirão, parecia estar disposta a falar. Aproximei-me
novamente.
– Como
tem estado? – Inquiri num tom de voz veludoso, denunciando que estava disposta
a esquecer os nossos momentos menos bons do passado.
–
Bem. – Respondeu, monocordicamente.
Assenti
e fiz um esforço para sorrir. Estivemos uns minutos em silêncio, a olharmo-nos
como se esperássemos alguma coisa e quando eu estava prestes a dar a conversa
por terminada e a ir-me embora ela voltou a falar.
– Pelo
menos estás arrependida? – Interpelou de uma forma mordaz, cirúrgica.
Mantive-me
em silêncio. Em choque. Estava a tentar não acreditar na pergunta que me estava
a fazer.
–
Responde-me. Estás arrependida? – Continuou sem um laivo de misericórdia no seu
olhar glacial.
–
Porquê agora? – Perguntei com uma voz trémula. – Acabei de chegar.
–
Não invalida o que fizeste. Espero que te tenha servido de lição. – Adquiriu um
tom duro. – Não fazes ideia do quão afetados fomos. Na missa todos me olhavam
de lado. As velhotas do banco da frente zombavam fortemente de mim como se
tivesse sido eu a errar crassamente. O dono do café que costumava frequentar
parecia nem sequer querer olhar na minha cara. As conversas com as minhas
amigas espaçaram-se até que se extinguiram por tua culpa. Sabes que mais? Não
acho que ninguém esteja plenamente feliz por voltares. É simpático dizer e
fazer de conta, mas todos sabem que os problemas estão para vir. Mais do que os
que tinham até à data.
Senti
o mundo abater-se sobre mim bruscamente. Eu sabia que dela não viria nenhuma
palavra carinhosa e muito menos um afago. Mas aquilo tinha excedido todas as
conjeturas pejorativas que lhe costumava tecer.
Olhei
à minha volta e enxerguei os rostos. Quantos estariam realmente gratos pelo meu
retorno? Mirei Jeremy. Estava sorridente, mas não era aquele sorriso encantador
com que me recebia nas viagens dos escuteiros onde permanecia alguns dias fora.
Karina parecia, naquele momento, triste. Podia ser por Harold, podia ser por causa
de mim. O facto de não ter-me visitado podia ser para desviar as atenções e ela
até tinha adquirido o último nome de Harold. Talvez fosse para não ser
relacionada comigo. Os mais novos não sabiam sequer as verdadeiras razões de eu
me ter ausentado durante quase três anos. E os meus pais talvez não estivessem
assim tão felizes. A minha avó tinha razão. Eu tinha sido uma geradora de
problemas e continuaria a sê-lo."
Uau! Escreves muito bem, gostei muito! Esse é um livro que estás a pensar editar?
ResponderEliminarEstou realmente curiosa para saber o que daí vêm!
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