quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

The Country We Live In

Hoje, no comboio, fiquei pior que estragada. Tenho por hábito, quando venho da faculdade, ir de pé até porque farta de estar três horas sentada chateia-me em demasia para me deixar ficar sentada mais duas horas em transportes públicos, pelo que não me chateia minimamente levantar-me e dar lugar a outras pessoas. Então, hoje dei lugar a uma senhora já nos seus cinquenta anos muito simpática que começou a falar para mim e para uma colega. Deduziu que andávamos na Faculdade, dissemos o nosso curso e quando o dissemos ela começou a falar da sua situação como se nós pudéssemos ser a marca da diferença. Contou-nos sobre a sua reforma que mal chega para os medicamentos, dos seus problemas de coração e de coluna que lhe consomem a alegria e das dificuldades que passava, bem como os filhos que não tinham bens essenciais para darem aos filhos, como a alimentação e que ela tentava levar-lhes todas as semanas leite e outras coisas para os miúdos comerem... A mulher contou-nos isto quase a chorar, a dizer que a vida dela tinha-se tornado um suplício e que a outrora alegria dela tinha sido completamente revezada por tristeza por não poder ajudar ainda mais os filhos mesmo não tendo como. Não imaginam como eu me senti. Não senti pena. Senti uma vontade enorme de ter meios para ajudar as pessoas, meios de fazer ver aos nossos governantes que isto está a sufocar as pessoas e se está a tornar insustentável.  Mostrar de alguma forma que se eles se colocassem no lugar de muitas pessoas iriam gostar de ser apoiados e não lançados aos leões. Se soubessem o quão abalada fiquei por não conseguir fazer nada, por me sentir impotente, por não ter nada ali comigo, nem que fosse um simples sumo para colocar para os netos dela... Isto deixa-me verdadeiramente desconcertada. Custa-me ver o país dos Descobrimentos, o pioneiro das descobertas estar a morrer, a deixar morrer e a contribuir para tal. Custa-me muito saber que daqui a uns anos tudo estará de tal forma insustentável que me vou ver obrigada a ir para outro local que seja menos inóspito e largar tudo. Recomeçar. Custa-me ver a riqueza mal distribuída, a austeridade, a inconstitucionalidade que está prestes a ser executada! Isto irrita-me, mas faz-me perceber que cresci. Que os meus filhos e netos não irão passar, espero eu, pelo que eu passei. Viver num país onde austeridade, troika, crise, violência, greve e desemprego são o prato do dia. Onde todos os dias eu própria faço escolhas se hei-de comprar isto ou aquilo mas não o faço porque pode fazer-me falta. 
Este não é o país para o qual muitos lutaram. Este não é o país que eu quero ver descer ao caos. E são estes casos que me fazem ver que não posso, embora sozinha não faça nada, contribuir para que Portugal se torne num país de terceiro mundo. 

9 comentários:

  1. Concordo contigo. Está tão verdadeiro.

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  2. A realidade dos nossos comboios LOL

    Muitos beijinhos querida*

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  3. Tens razao, cada vez esta pior o pais em que vivemos, e é dificil ver as pessoas a não terem que comer, pessoas que se esforçam e trabalham e no fim não têm nada. E revoltante...

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  4. A verdade é que as pessoas que frequentam os comboios, não são as mesmas que frequentam a assembleia, as mesmas que lutam por nós.
    Sei que já tivemos mais, MUITO mais para dar, mas ninguém parece querer abrir os olhos para aproveitar o que de bom ainda há.

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  5. Concordo completamente! Custa-me ver imensa gente passar mal :\

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  6. Também me sinto muitas vezes assim, impotente. Não sei o que se passa na cabeça destes idiotas que nos governam. Porque não tiram aqueles gajos podres de ricos? E baixam as reformas de muitos ex-governantes?
    Isto dá pano para mangas..

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  7. é muito triste sim. o meu pai foi trabalhar para o estrangeiro por questões financeiras, como muitos outros portugueses, mas ele foi para um país que é muito pior que aqui, em que está tudo mal distribuído e que mesmo quem trabalha e ganha um dinheiro, que para nós é uma quantia razoável,continuam a passar fome e imensas dificuldades. é muito triste mesmo.

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"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
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