quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A Criatura da Casa dos Nomes

31 de Outubro de 2012

Thea entrou na casa que desde os seus cinco anos captara a sua atenção. Uma exímia casa na sua rua com três andares, estilo gótico, bem conservada, dado que a estrutura permanecia praticamente intacta, com um jardim pouco tratado e alguns vidros partidos na fachada frontal. 
Existiam boatos sobre aquela casa. Uns diziam que aprisionava quem ousasse colocar lá os pés, outros afirmavam que uma entidade qualquer habitava naquele casarão e ainda diziam que muitas pessoas já tinham morrido ali. Ora, para Thea era perfeitamente plausível, uma vez que, segundo o que constava no registo predial, aquela casa já tinha servido de Hospital durante a Guerra Fria. Era óbvio que muita gente tinha lá falecido por padecer das mais variadas calamidades da época. 
Thea passou muito tempo a admirar aquela casa quando passava da escola para ir para a sua casa. Sonhava em conseguir comprá-la para habitar lá um dia mais tarde, mas como esse momento tardava, organizou uma expedição no Dia das Bruxas à casa sem o consentimento dos seus pais, já que eles acreditavam pia e cegamente em cada falatório acerca da casa.
Fazia frio e ela e os seus amigos esforçaram-se por esgueirarem-se para o interior da propriedade. Frank, um hábil ginasta, transpôs os altos portões com facilidade e arranjou uma forma de o abrir. Thea e os restantes entraram e correram para a porta. Frank fez as honras e abriu-a, entrando. 
- Está frio cá dentro cá dentro. - Comentou Valerie, friccionando as mangas do seu vestido negro de bruxa.
- Vamos explorar! - Exclamou Javier, entusiasmado.
Deparam-se com um lance de escadas em madeira. Subiram as débeis escadas enquanto emitiam sons horripilantes e troçavam das lendas inventadas. Abruptamente, ouviu-se um forte estalido vindo do andar de baixo.
- O que é isto? - Perguntou Valerie, agarrando o braço de Frank enquanto tiritava de frio.
- Provavelmente foi a madeira a estalar. Vamos lá explorar! Tiramos a noite para isso!
Thea aquiesceu e puxou-a para os seguir. Não obstante, ela estava amedrontada sem qualquer razão. Era apenas uma casa antiga que tinha uma lenda. Nada mais. 
Chegaram a um corredor que dava acesso a várias portas encerradas. Thea começou a abri-las e, subitamente, ouviu Valerie gritar. Correu de imediato em direção ao grito e viu-a a chorar, com a perna esquerda praticamente engolida pela escada de madeira. Frank e Javier estavam a ajudá-la a tirar a perna dali, mas os prantos de dor que ela soltavam fazia-os parar. Ela substituiu Javier, que começava a ficar pálido como cal, mas a perna dela parecia estar de tal forma entalada na escada que nunca iríamos conseguir tirá-la dali sem ajuda. 
- Vão procurar ajuda enquanto eu fico aqui! - Gritou ela, desesperada.
Concordaram e desceram as escadas num ápice, correndo para a porta. Estava trancada e eles tinham a certeza de que a tinham deixado aberta.
- Começo a acreditar no que era dito sobre esta casa! - Ripostou Frank enquanto se atirava violentamente contra a porta.
- Tentamos pelas janelas. - Sugeriu Javier.
Quando se voltaram para as escadas, Valerie tinha desaparecido. Entreolharam-se e o nosso primeiro instinto foi correr em direção às janelas. Arremessaram cadeiras, objetos perdidos no chão, pontapearam, mas não havia forma de se abrir uma fenda no vidro. De repente, Thea sente Javier encostar-se a ela, conseguindo sentir-lhe a respiração acelerada. 
- Eu vi alguém. Não era um fantasma. Parecia... um animal.
- Nós estamos todos muito confusos, todos nós sabemos disso, e, portanto, é normal que estejamos a delirar! - Disse, com convicção. - Nós temos de encontrar Valerie e sair daqui!
- Estás a duvidar de mim, Thea? Eu sei o que vi! Um quadrúpede! 
- Eu não estou a duvidar... Talvez até esteja! - Franziu o sobrolho. - É impossível. Frank, viste alguma coisa?
Não houve resposta alguma. Voltou-se para trás e inferiu não havia sinal de Frank.
- Onde está Frank? Ele ficou para trás, mas apenas uns míseros passos! - Replicou, com as lágrimas a picarem-lhe os olhos. 
- Nunca deveríamos ter entrado aqui! Sabíamos que existiam lendas e, afinal, parece que não são assim tão inverosímeis! - Proferiu com azedume. - Nós precisamos de sair daqui!
Ela lançou-me aos seus braços a chorar. Ele não recusou o abraço apesar de estar tremendamente quezilado com ela. Ainda com o olhar ofuscado pelas lágrimas, num vislumbre, ela conseguiu ver a sombra do quadrúpede que Javier tinha alegado ver. Rapidamente o largou e deu-lhe a mão, começando a correr. Não foi preciso dizer do que estavam a fugir. Ambos sabiam que tinham de sair dali o mais rápido possível e que Frank e Valerie tinham sido vítimas daquele ser cuja fisionomia eles ainda desconheciam. Contudo, não tardou muito a eles vislumbrarem a criatura. Uma medonha figura esverdeada, olhos redondos com íris plúmbea, dentes imaculados e incisivos que rasgariam carne numa questão de segundos, garras afiadas e fortes, cabelos negros, escorridos, semelhantes a um derrame petrolífero. 
Exclamava, enquanto se aproximava inexoravelmente deles, Morgan. Chamar-se-ia Morgan? Se sim, quem a teria apelidado? Não, se Thea bem se recordava, aquele era o nome de um homem que tinha morado naquela casa e tinha sido dado como desaparecido pouco tempo depois.
- Como saímos disto, Thea? - Perguntou Javier, com o olhar azul desfeito em lágrimas. 
- Morgan. Morgan. - Continuou a criatura medonha enquanto se aproximava. 
- Eu não sei! - Bradei, impacientemente.
A criatura avançou sobre nós e derrubou-nos apenas com uma palmada. Recordo-me de ter sentido a carne da minha perna ser separada do osso e de sentir uma dor pungente atravessar-me o corpo e a propagar-se como uma onda sísmica.

31 de Outubro de 2013

- Vamos fazer uma expedição àquela casa por onde passamos todos os dias? - Interpelou Chester entusiasticamente ao seu grupo de amigos.
- Vamos! - Responderam em uníssono.
Horas mais tarde, tal como tinham combinado, encontraram-se no portão da casa. Como sempre, era necessário abrir o portão e, portanto, Chester saltou o muro, abrindo-o. Cam, Joe e Kathlyn entraram, atirando as beatas dos cigarros para o chão enlameado.
Mal entraram na casa sentiram um cheiro esquisito que deduziram tratar-se de animais putrefactos. Pouco tempo depois, começaram a ouvir estalidos a reverberarem pela casa.
- Será que as lendas não eram verdadeiras? - Indagou Kathlyn.
- São uma verdadeira treta, queres tu dizer! - Disse Cam, cruzando os braços sobre o seu peito forte.
Ela não se mostrou convencida, mas continuou a segui-los. 
- Valerie. 
Kathlyn voltou-se de imediato para trás quando ouviu um sussurrar.
- Rapazes, eu ouvi algo. Valerie. - Imitou. - Vamos embora, a sério.
- Oh, deve ter sido o vento, Kathlyn. Vamos lá!
- Frank. - Ouviu ela de novo.
- Pessoal, agora ouvi "Frank"! Vamos embora daqui! Isto está a tornar-se extremamente bizarro! - Retraiu-se. - Eu vi duas sombras. Por favor, vamos embora daqui.
- Não é nada, Katnlyn! Vamos continuar!
Kathlyn avistou uma criatura a aproximar-se inexoravelmente dos seus três amigos. Tentou falar, mas a única coisa que lhe saía era um conjunto de vocábulos desprovidos de sentido. Quando finalmente conseguiu dizer algo, era já tarde demais.
- Thea. - proferiu a criatura esverdeada de olhos cor de púrpura e cabelos acastanhados escorridos enquanto fez os três rapazes colidirem violentamente contra a parede. Kathlyn, aterrorizada, recua, mas de nada lhe vale. Thea avança sobre ela e fá-la passar o mesmo que passou durante um ano. 

P.s Está uma história um bocadinho parvinha e se calhar não a perceberam, mas pronto!

3 comentários:

  1. Olá, adorei o teu blog e a história!
    Que tal a festa por estes lados?

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  2. Bem, com Coldplay é fácil acertar :)
    Então e o teu soundtrack? Demais!

    Como visitante do meu blog levas um pouco de poção da sorte (Prelim-pim-pim, boa sorte!!), aconselho-te a ver o filme "O Olho" e deixo aqui uma passagem do livro "No teu deserto", de Miguel Sousa Tavares: "Na verdade, o deserto não existe: se tudo à volta deixa de existir e de ter sentido, só resta o nada. E o nada é o nada: conforme se olha, é a ausência de tudo, ou, pelo contrário, o absoluto."

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  3. Eu gostei deste conto, a sério que sim! Está brutal e eu acho que entendi o final :) Nunca desiludes com a tua escrita, és espantosa :)

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"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
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