segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Os Últimos Dias na Terra - Parte III

Uma imensa fila de trânsito é tudo o que eu consigo enxergar. Consigo ouvir buzinas a reverberarem por toda a parte, vozes gritantes a quererem fazer-se ouvir através de vitupérios medíocres e chuva torrencial a esbater no asfalto e no carro. Quando é que isto vai parar? Eu preciso de chegar urgentemente ao escritório, caso contrário terei de fazer horas extraordinárias, o que era um perfeito calvário na Terra para mim. Aumento o volume do rádio e deixo a música ritmada inundar o carro. Contudo, era impossível descontrair-me. As buzinas não tinham fim. Abruptamente alguém fez os nós dos seus dedos embater no vidro gelado. Vi um homem de gabardina amarela e inferi que me queria avisar sobre algo. Abri de imediato o vidro e senti uma corrente gélida envolver-me. Apertei o casaco contra o meu corpo e retribuí o gentil cumprimento. 
– Desculpe, senhora, mas o trânsito está congestionado. Devido às más condições de aderência, ocorreu um grande acidente a umas centenas de metros. – Olhou para trás. – Se quiser, visto que não tem ninguém atrás de si, pode enveredar por esta rua. – Apontou-a com a sua mão. 
– É, farei isso, não posso chegar tarde. Muito obrigada.
Fecho novamente o vidro e sinto um arrepio percorrer-me a coluna. Despeço-me do simpático senhor com um sorriso e vou na direção que ele me tinha indicado. Minutos depois, o meu telemóvel começa a vibrar incessantemente. Com aquele estado do tempo nunca iria atendê-lo sem encostar à berma. Aproximo-me de um pinheiro na expetativa de que as gotas grossas que emitiam um som imperativo assim que embatiam na chapa não fossem tão ensurdecedoras. Vejo o nome de Ben no ecrã do meu telemóvel.
– Kim, já saíste de casa? – Pergunta ele com a respiração anelante.
– Sim, já saí de casa. O que se passa? Estás bem? – Interpelo, consternada.
Um longo período de silêncio faz-se escutar.
– Por favor, vai para casa e enche a cave de mantimentos. Por favor, ouve-me e não questiones agora. Eu explicar-te-ei tudo em breve.
– Como queres que eu não questione quando, praticamente me lanças um ultimato? – Pergunto, exaltada. – Eu preciso de ir trabalhar, Ben!
Vejo um clarão pintar o céu de branco e, de repente, uma cortina de fumo e fogo a poucas dezenas de metros de mim. Atiro o telemóvel para o chão, recuo e meto pelo campo infértil, entrando de novo na estrada, conduzindo alguns metros em contra-mão e, sem hesitar, volto a retomar a minha marcha em direção a minha casa. Procuro o telemóvel no chão e ouço a voz de Ben.
– O que se passou? Eu ouvi um forte estrépito e depois um grito teu.
– Onde está Ava? – Pergunto, conduzindo o mais velozmente possível. Os relâmpagos fortíssimos pareciam seguir-me como se eu fosse um íman.
– Ela está comigo. Decidi não a levar à escola. – Fez uma longa pausa. – Fazes o que te pedi?
– Sim, faço. Mas vem para casa, por favor! Um relâmpago acabou de cair mesmo à minha frente.
– Em menos de dez minutos estou aí, Kim. – Arfou. – Até já. Amo-te.
Desligo a chamada e estaciono o carro, saindo a correr dele com a mala pela cabeça. Dispo a roupa molhada, envergo uma roupa prática e começo a separar tudo o que podia. Latas de conserva para um lado, roupas para outro, água potável para outro lado e levei tudo para a cave. O cheiro a mofo invade aquele local, no entanto está diferente. Há dois colchões insufláveis, prateleiras dispostas em todas as paredes, um rádio, lanternas, sobretudos de penas, um pequeno fogão e já algumas prateleiras com alimentos. Claro que tinha sido Ben nas suas horas vagas. Disponho tudo nas prateleira, atiro cobertores para lá e corro para a porta assim que a ouço fechar-se. Assim que os vejo, abraço-os. Ben manda Ava ir buscar livros para se entreter e puxa-me para ele, abraçando-me.
– Tens algo a dizer-me, não tens?
– Tenho. Há fortes possibilidades de esta ser a maior tempestade de todos os tempos e de causar danos irreparáveis. Temos de reunir tudo o que podermos para sobreviver.
– A Ava sabe?
– Ela não tem mais cinco anos, Kim. Tem dezasseis. Claro que se apercebeu.
Largo-o e vejo o seu semblante desfigurado pela preocupação.
– Amanhã pode não restar nada, nem nós se permanecermos nos nossos quartos. – Continua. – Quando construímos esta casa eu insisti que construíssemos uma cave precisamente por estas razões, embora não soubesse que realmente iria acontecer. 
Não sei o que dizer... Perder a minha casa? Perder aquilo pela qual tinha lutado? Deixo uma lágrima deslizar pelo meu rosto. Ben limpa-a com o polegar.
– Nós vamos sobreviver. Estamos prevenidos.
– E as outras pessoas, pai? – Pergunta Ava, expectante, com um braçado de livros.
Ben caminha até ela.
– Ava, metade das pessoas não se acreditarão em nós. Para além do mais, o governo não decretou estado de calamidade. Podemos avisar aquelas que realmente se acreditariam em nós.
Vi estampado no rosto de Ava a indignação.
– Não, nós temos de avisar toda a gente.
Ela deixou cair os livros no chão e correu em direção à porta da rua. Ambos corremos atrás dela, tentando impedi-la de sair, mas, em plenos pulmões ela gritou Escondam-se!. Contudo, o forte relâmpago abafou a sua voz. Ben agarrou-a pela cintura e trouxe-a para o interior apesar das suas blasfémias e esforços. 

P.s Apesar de existir um filme com este nome e aparentemente com o mesmo tempo, eu não sabia e bem antes de eu saber que havia um filme assim, já eu andava com esta ideia. Espero que gostem! ^^

7 comentários:

  1. Sem palavras! Não pares de escrever nunca :)

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  2. Peço imensa desulpa! Andei a fazer alterações e esqueci-me de colocar a caixa de seguidores xD Agora já podes seguir, OBRIGADA!

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  3. Sim, tens razão. Espero mesmo ter escolhido o que gosto... Sou uma indecisa de primeira!

    Já li este texto pela 4º vez e acredito piamente que não foi a última!

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  4. Ahahahah! Isso é bom, acho eu... o Alice no País das Maravilhas é só o livro da minha vida!
    Não... segui Humanidades. Se seguisses teatro não teria quaisquer dúvidas! Mas tenho 14 anos e em Portugal não vale a pena seguir teatro... Talvez daqui a uns anos, quem sabe :)

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  5. Muito obrigada querida! O teu blog fascina-me e esta história? Perfeita.

    Acredito que um dia vás lá visitar, é lindo! :)

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  6. As músicas são todas do Ed Sheeran! :)

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  7. Oh querida!* Acredita, não é um romance normal! E a história vai ter muitos momentos inesperados :)

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"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
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