quarta-feira, 6 de julho de 2011

Viagem sem Volta

No início não passava de negócio. Encontravamo-nos por volta das duas da manhã no mesmo local: nas dianteiras do edifício da fábrica metalúrgica da cidade. Em poucas palavras fazíamos o negócio. Colocávamos a droga na mão do cliente e, imediatamente, lançávamos a mão para alcançar o dinheiro e íamos embora. Por vezes, parávamos num bar para tomar um café ou beber uma cerveja para festejar o negócio que tínhamos fechado mas tudo muito discreto.
Todos os dias tínhamos alguém disposto a pagar milhares de dólares por uma mísera dose de droga que, na maioria das vezes, era misturada com outras mais leves e de menor custo. De uma forma ou de outra tínhamos de ter lucro naquilo que vendíamos. 
Inicialmente era muito fácil resistir. Os primordiais vendedores de droga sempre nos disseram “Vende mas nunca na tua vida experimentes, isto é, se não queres passar de vendedor a consumidor.”
De certa forma, eles tinham razão mas quando eles me disseram isso nunca pensei que fosse assim tão linear.
Após uma venda milionária e do ritual do festejo no Bar do Simon, voltamos para o pequeno palacete construído com o dinheiro que tínhamos adquirido ao longo dos anos com a venda ilegal de droga e dormimos.
A meio da noite senti a ausência de Natasha. Lancei os meus braços do lado esquerdo da cama mas ela não estava lá. Inquieto, levantei-me e procurei-a. Irrevogavelmente não estava no quarto. Ouvi depois um barulho bizarro. Parei e escutei com atenção. Assemelhava-se a alguém a amachucar um pedaço de papel. O barulho provinha da casa de banho. Dirigi-me para lá e abri a porta e dei com Natasha injectando nas suas veias um pouco de droga. Olhou-me e com a sua voz convidativa e melosa, abordou-me:
- Queres um bocadinho, Jack? Apenas para experimentar! Não ficaremos viciados. Prometo-te. - E sorriu docemente, estendendo-me a droga com os seus olhos vidrados e um sorriso tão bizarro que mal a conhecia.
Quase como num acto involuntário, agarrei na seringa e injectei nas minhas veias.
Por que razão ir-me-ia viciar? Aprenderia a controlar-me sem problemas após a primeira toma.
Não fazia idéia de que, aquele momento, estaria a abrir os portais do inferno para mim. Lembrei-me das palavras de um dos viciados que ficavam jogados em um lugar convidativo para fazer negócios. Um rapaz de uns 17 anos, maltrapilho como um mendigo dizia: “Depois de injetar, é uma viagem sem volta, você não consegue mais voltar atrás”.
Procurei ignorar e dei segmento injetando o líquido que corria em minhas veias pulsantes descontroladamente. A sensação foi melhor que um orgasmo, foi como se eu tivesse visto Deus, indescrítivel.
Pouco depois, pensei na asneira que havia feito, não ia nunca mais chegar perto de uma seringa, mas os flashbacks em minha mente e aquela sensação indescrítivel de repetir a viagem ao Paraíso não me saíam da cabeça.
-Dane-se! - pensei. - E preparei um pouco mais. E injetei. 
Oh sim, como fora bom! Mas não tão bom quanto a primeira vez… talvez precisasse de um pouco mais, talvez não tivesse injetado o suficiente.
Logo já não podia mais usar mangas curtas e exibir meus braços picados. Logo já não tinha mais nada, vendi tudo o que possuía, e que não era pouco e logo os traficantes me perseguiam porque as dívidas aumentavam cada dia mais, mas eu faria qualquer coisa para ter de volta aquela sensação única.
Logo, lá estava eu, jogado naquele lugar de decadência onde já lucrara muito com o desespero alheio, maltrapilho como um mendigo e aquecido do inverno rigoroso através de lixos queimados em uma lata.
E o olhar amortecido do rapaz, que me reconheceu, caiu em minha direção e ele disse:
-Eu avisei. É uma viagem sem volta.
-Se é uma viagem sem volta, que seja menos dolorosa do que esta… Que eu veja realmente Deus.
Peguei a seringa, que seria a última, dei alguns tapas nela com os dedos e injetei. Injetei na pouca veia que restara das outras, na certeza de que aquela seria a última vez.

Texto escrito por Hayley Nya e Christian V. Louis!

5 comentários:

  1. adorei, mt mt boa visão da droga e do seu consumo!

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  2. adorei realmente esta história e já ouvi desse discurso e presenciei ese tipo de acontecimentos!
    Sim, Hayley recebi a diser que tinhas visto e gostado e que mandavas quando terminasses.

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"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
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