sábado, 14 de março de 2015

Criança Ferida

Sentada no canto tu sabes o que te atormenta. Não é o escuro que amedronta a tua alma nem as noites tempestuosas que te tiram o sono. Não é a exaustão que te demove de continuar a andar. Nada te prende, exceto os pequenos fantasmas e barreiras que vais construindo vagamente em torno de ti. Jogas à defesa. Todos já percebemos isso. Magoas para não saíres magoada, mas sais com a mágoa. Não aprendes porque as raízes em ti são profundas e vincadas e continuas a fazê-lo, tal cão raivoso. 
Construíste todas essas muralhas há muito tempo atrás. Tornaste-te, para quem quiseste, uma barreira praticamente impenetrante com todos os soldados na linha da frente, portando armas contundentes prontas a cravar perante uma tentativa de ataque. E sabes? Não funciona. Não funciona porque afastas as pessoas. Duvidas de ti, das tuas capacidades, da tua astúcia e de todos os que te circundam. De bestiais a bestas. De íntimos a desconhecidos, ou perto disso. Deixa de haver um porto seguro, fechas as portas do teu coração, assumes uma crueldade imensurável e defendes-te. Achas que isso funciona? Achas que o receio irá resolver todos os teus dramas, os mais infímos que sejam?
Abre a tua mente. Para ganhar há que perder alguma coisa. Baixa a guarda e permite-te.

4 comentários:

  1. Permitir acho que é uma das coisas mais difíceis de fazer mas também uma das mais importantes!

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  2. Devia espetar este texto numa parede do meu quarto só mesmo para me lembrar que descontrair um bocado às vezes faz falta

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  3. Este texto é perfeito para mim sabes?
    Mas baixar a guarda e permitir....

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  4. Mais uma vez, foste capaz de escrever aquilo que não quis proferir em voz alta como sendo a verdade de toda a minha existência.

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"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
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