quinta-feira, 6 de março de 2014

Caramelo

E depois eu vi-te com esse olhar dócil caramelizado a pedir por alimento. A comoção abrangeu-me e envolveu-me nas suas malhas e, sem que tivesse escolha, estendi a minha mão e deixei-te abastecer. Vi que estavas perdido algures por ali, receoso e atemorizado. Mas dócil. Com um olhar meigo e deleitoso que me fez querer voltar para casa e afagar o que é meu. Rogar para que nunca, mas nunca se perca nessas ruas decrépitas nem que fique sujeito à podridão do mundo, lá fora. Porque eu vi-o, uma criatura indefesa, sem eira nem beira, sem palavras nem rostos certos. E percebi que o mundo não é azul como o céu de hoje às 11:38. Para mim era, mas para ele era um daqueles dias incertos, cobertos de bruma cujo destino estaria nas suas patas caso se conseguisse locomover.

Sem comentários:

Enviar um comentário

"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
Aviso: Não se aceitam comentários que não se relacionem com o post. Obrigada pela compreensão.