quarta-feira, 12 de junho de 2013

Princesa do Castelo de Gelo

Uma música triste preenche o quarto sombrio. Eu sei que a bailarina continua a dançar na sua caixa. Tão privada de vida. Tão tonta e confusa naquela roda, sem parar. Mirando os mesmos cantos, os mesmos objetos e a escutar sempre a mesma triste melodia que se assemelha a um choro pacífico e leve. Os contos de fada terminaram. Não terá o princípe encantado num cavalo branco, não terá trompetas a saudarem a sua entrada... Não terá uma salva de palmas heróica e palavras de boas-vindas porque ela sabe que sempre será aquela cujo Norte foi roubado e que andará sempre às voltas, pelo menos enquanto não se fartarem dela e a colocarem no lixo.
Ninguém se atreve a parar o movimento. Ela fita as paredes com tristeza no olhar e um sorriso tão frio que me questiono como foi possível fazerem dela algo assim. Bela, mas fria. Elegante, mas rígida. Princesa do castelo de gelo cujo olhar e postura se assemelha a um glaciar. E ela continua a dançar, com braços singelos e ar triste como se fosse um suplício aquela melodia. Ou o girar. Ou tudo. Não sei bem. 
A música triste começa a inundar lentamente o meu espírito e revejo-me naquela caixa tão pequena e limitada. Dou voltas e mais voltas à minha cabeça, a minha vida tem um início mas volta ao mesmo ponto, mas eu continuo a dançar. A mostrar o sorriso no meio do olhar glacial e dos movimentos rígidos do meu corpo. Sou a princesa do castelo de gelo, gelo esse que nunca se irá derreter muito menos na imensidão das manhas da incerteza.

3 comentários:

  1. Um texto daqueles a que sempre me habituaste ;) Gosto da ideia da bailarina (lembrei-me de uma caixa de música) e da transposição que fizeste para o teu eu. Serás tu a bailarina que vê sempre as mesmas coisas e se vê numa rotina sufocante?
    Mas bom... palavras para quê? Um texto magnífico!

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  2. «Ela fita as paredes com tristeza no olhar e um sorriso tão frio que me questiono como foi possível fazerem dela algo assim. Bela, mas fria. Elegante, mas rígida. Princesa do castelo de gelo cujo olhar e postura se assemelha a um glaciar.» Oh Hayley! Palavras para quê? Não fazes ideia do quanto me revejo nos teus textos, principalmente numa fase da minha vida que tem sido tão atribulada! Continua a escrever, apenas isso! Não pares, nunca. Alimenta-nos com esse sentimento que a tua escrita não esconde e inunda-nos com esse poder que nas tuas palavras é impresso! Continua sempre a dar voz a tanto que fica por completar. És e sempre serás a escritora com quem mais aprendi e que mais admiro. Não desistas, nunca, minha pequena bailarina!
    Beijinho

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  3. Hayley... Adorei o teu texto. Cada linha dele.
    Identifiquei-me lindamente com a tua bailarina e, do mesmo modo, muitos leriam o que escreveste e veriam algo semelhante a uma descrição do seu quotidiano.
    Congrats...

    Valentina.

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"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
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