Se eu fechar para sempre os olhos, continuarás aqui?, foi aquilo que me perguntaste pouco depois de me conhecer. Recordo-me desse dia como se fosse hoje. Invernoso, dançávamos por debaixo das gotículas de chuva que caíam copiosamente, escorrendo pelos nossos corpos e caindo no asfalto. Não nos importávamos com nada. Éramos dois adolescentes em plena loucura, enveredando no caminho do amor e da união. Tu puxaste-me para ti, e com uma voz melodiosa, perguntaste-me se permaneceria sempre contigo, e eu, disse que sim.
Hoje estou com medo. Olho pela janela e recordo-me desse dia. Na verdade, todos os procedentes me afloram à memória. Ah, se eu os pudesse apagar! Mas há sempre algo que me faz sempre querer manter as memórias. Há algo que me diz que por muito que queira fazê-lo, nunca terei coragem para tal. Acredito piamente. Não se esquece algo numa questão de dias, meses e muito menos anos. Sinto-me, de alguma forma, acorrentada às memórias que insistem em tornar a minha vida num calvário. Foste o meu calvário, de qualquer das formas, mas, simultaneamente a minha salvação. Salvaste-me do degredo, da escuridão, mostraste-me o caminho correto, tratas-te de mim com zelo e como nunca ninguém antes tinha tratado... Mas foste o meu calvário. Tudo teria sido perfeito se eu não tivesse fechado os olhos. Tudo estava a prosseguir de uma forma demasiado amistosa para ser verdade. Erro meu, eu sei, deveria ter vaticinado que a minha sorte tinha limites e que a qualquer momento, eu iria atrair o azar.
Foi tudo tão rápido. Um temporal, um camião, um clarão que me ofuscou a visão, um pedaço de óleo derramado no asfalto, o jipe dando voltas e mais voltas e tu, já sem os sentidos, batendo com a cabeça na chapa. Eu perdi os sentidos, mas recuperei-os. Não soube quem era durante muito tempo. Não soube o que tinha acontecido, não conseguia sequer reconhecer a minha família. Eles não sabem que sei o que se passou. Eu recuperei quando ouvi a tua voz questionar: Se eu fechar para sempre os olhos, continuarás aqui?. Comecei a recordar-me de tudo e toda a informação retornou de uma forma violenta. Apercebi-me que eu é que deveria ter-te perguntado isso. Agora, eles pensam que eu estou insana. Repito essa pergunta vezes sem conta durante o dia só para te ouvir dizer: Fecha os olhos e descansa. Talvez esteja mesmo insana, mas é a minha salvação dia após dia. Se eu pudesse pedir um desejo, serias tu.
Fecha os olhos e descansa., voltas a repetir. Desobedeço. Quero que mo digas mais uma vez.
P.s Este texto foi escrito tendo por base a música Close Your Eyes Forever que a Victoria J. Esseker sugeriu. Por sua vez, ela fez, ou vai fazer, um texto tendo por base a música que lhe sugeri: Atlantic, dos Keane.
A ideia é genial e o texto está fantástico. Gosto muito, beijinhos *
ResponderEliminarO texto está fantástico, é mesmo emocionante :)
ResponderEliminarOh, muito obrigada *.*
ResponderEliminarSe quiseres, podíamos fazer também esta troca de músicas como inspiração para novos textos. É bastante interessante :)
Beijinhos !
Já sei, Roll Away Your Stone dos Mumford & Sons :)
ResponderEliminarE a tua para mim?
Já sei, Roll Away Your Stone dos Mumford & Sons :)
ResponderEliminarE a tua para mim?
Adorei o texto, está mesmo fantástico! :)
ResponderEliminarOmg, espetacular! Adorei, adorei! Identifico-me com: Hoje estou com medo. Olho pela janela e recordo-me desse dia. Na verdade, todos os procedentes me afloram à memória. Ah, se eu os pudesse apagar! Mas há sempre algo que me faz sempre querer manter as memórias. Há algo que me diz que por muito que queira fazê-lo, nunca terei coragem para tal. Acredito piamente. Não se esquece algo numa questão de dias, meses e muito menos anos. Sinto-me, de alguma forma, acorrentada às memórias que insistem em tornar a minha vida num calvário. Foste o meu calvário, de qualquer das formas, mas, simultaneamente a minha salvação. A parte do jipe nem tanto mas consegui ter a imagem do jipe a descapotar, awesome writting!
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