sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Renascer dos Mortos

Estou gelada. 
Eles disseram para nunca olhar para trás. Corri. Corri por entre ruelas, renques de árvores, caminhos lamacentos que me queriam engolir... Corri por entre vales e montanhas, caí de um precipício, embati com a fronte no solo húmido, fiquei sarapintada de hematomas e coberta de escoriações, mas levantei-me. Sabia que percorria um longo caminho repleto de peripécias, de obstáculos que iriam exibir-se intransponíveis, mas não me estava a apetecer minimamente deixar-me vencer independentemente das adversidades que resolvessem intrometer-se no meu caminho.
Confesso que ponderei parar. Deixar o frio entorpecer lenta e perfeitamente cada músculo do meu corpo, fazendo com que ele se tornasse inexoravelmente impotente mesmo contra a mais fraca brisa. Tentei controlar a minha mente apocalíptica que vislumbrava a morte como sendo o único caminho viável. Contudo, eu vi o Sol nascer lá ao fundo. Singelo, forte, despontando lentamente, tornando a vegetação imponente e fazendo-me renascer dos mortos, ou perto disso. Com os músculos frouxos, decidi levantar-me e, cambaleando, continuei o meu caminho, relembrando-me que se eu não o fizesse, jamais alguém o faria. 
E cheguei onde queria. Tarde, mas cheguei. 

1 comentário:

  1. E queria mais. Queria ler mais. O antes e o depois. Saber para onde é que ela vai e o porquê de ir.
    É um texto pequeno que deixa a vontade de ler mais.

    Love, Nameless

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"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
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