sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Buraco Negro Supermassivo

Ela prendeu o seu cabelo num rabo de cavalo mesmo no topo da sua cabeça. Afastou os cabelos mais rebeldes dos seus olhos e limpou-os com o último lenço que lhe restava no bolso e saiu disparada que nem uma bala pela porta fora, jurando nunca mais lá voltar.
Ela sabia que se iria recordar daquele dia para sempre. Do choro, da chuva que caía copiosamente sobre as suas costas, dos abraços e pêsames que lhe iam desejando durante a cerimónia... Ela sabia que iria ficar eternamente impregnado na sua mente tão jovem aquele acontecimento e que ela nunca iria recuperar. Sabia que no seu coração, ou o que dele restava, iria residir um buraco negro supermassivo impossível de colmatar. Iria sentir-se sozinha, abandonada como um cachorro na berma da estrada num dia tempestuoso, vazia como nela tivesse sucumbido toda a sua alma e fugacidade. Ela iria recordar-se do chiar do portão, das dobradiças a necessitarem urgentemente de óleo, do pensamento quando viu o nome da pessoa que mais amava estampado na lápide negra, laboriosamente esculpida, de que nunca mais iria ter uma presença física e que nunca, mas nunca mais iria conseguir falar abertamente com alguém como falava com ele. Ele era amigo, confidente, protetor... tudo o que ela queria e mais alguma coisa, até que resolveram arrancá-lo sem que ela pudesse fazer nada. Viu a vida escapar-se-lhe morosamente por entre os dedos, impotente à situação, aspirando por um milagre que se anunciava bem longe de acontecer. E não aconteceu. Esse milagre não veio e não viria para ela também. Não foi só ele que morreu. Ela juntamente foi com ele.
Ela jurou nunca mais ir ali. Nunca mais pensar nele, esquecer tudo, arranjar forma de dissipar as memórias, quem sabia mesmo, bater com a cabeça em algum lado e ter amnésia. Contudo, ela sabia que nunca iria conseguir esquecer quem lhe tinha dado o verdadeiro sentido à vida. 

3 comentários:

"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
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