sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Até a última Onda Rebentar

Sentei-me, sozinha, na imensidão que se dispunha à minha frente. Um horizonte claro e azul preenchia o céu longínquo, e o meu corpo assentava sobre uma areia quente e moldável. Ao olhar o esplendido infinito que me rodeava, que ia desde o número incontável de grãos de areia ao fim do imenso universo, compreendia, aos poucos, que aquela era a essência de cada ser: uma tentativa quase imponente de nunca lhe ser reconhecido um fim. Seria correto simplesmente descartarmos a leveza da morte?
Concentro-me na interminável rebentação das ondas, nos uivos repetitivos da aragem que passeia no ar e nos gritos intermitentes do silêncio. Morte é sinónimo de esquecimento. Considero plausível dizer que até o silêncio tem medo de morrer, por passar tão despercebido e solitário. Até o silêncio vive. Uma parte do viver é sentir receio de perder essa vida. E, quando se aborda um tema tão forte - a vivência -, é necessário reconhecer-lhe um significado. Viver, diriam os grandes sábios, é assumir uma posição no mundo, é reconhecer o valor da vida e praticá-lo em cada passo que se dá. Resume-se ao amor, ao desejo e à entrega. A morte, porém, contrastava com todas estas ideologias que os seres atribuíam à vida. Eu, pessoalmente, entendia a morte como uma questão para a qual não encontrava resposta; via-a como um emaranhado de perdas, que se entrelaçavam até formarem uma perda conjunta: quando morríamos perdíamos todas as nossas oportunidades para fazer o que quer que seja, e reconhecíamos a incapacidade. Perante uma verdade destas, a morte vigorava a vida. A vida era incerta, incontrolável e impossível de determinar. Já a morte, em contrapartida, era a única garantia da vida.
A oportunidade de viver era imposta com uma única condição: assumir-se a morte como um fim certo. E, a partir desta lei, os advogados alegam que a morte projetada é aceitável. O que leva ao entendimento de que, pela mesma ordem de ideias, é possível dar-se vida a alguém especifico, assim como é possível tirá-la. Talvez, por meio de associação, afirmo que a alegação de verdades impostas por um ser individual é ridícula. Pelo simples motivo de que ninguém vive o suficiente para saber literalmente tudo sobre uma situação. O que reconhece, de novo, a importância da morte nos assuntos comuns. É humanamente impossível um ser deter-se só e unicamente num assunto, não só por haver uma infinidade deles, mas também porque o tempo é contado. Quanto mais vivemos, mais nos aproximamos da morte. E, por isso, em situações extremas, os advogados deveriam respeitar a presença do silêncio. Como eu respeito, neste areal vazio e calmo.
O silêncio vale ouro, reconheço e tento terminar as minhas reflexões. Projeto o meu olhar para uma pedra que se acomoda sob a minha pele, revelando-a ao universo vivo. Aperto-a na palma da minha mão e tento reconhecer-lhe a vida. Mas a sua ausência é tão persistente, que compreendo o motivo da pedra ser considerada um ser morto. Está aqui, mas não deseja, ama ou se entrega. Foi-lhe dada a morte como certeza absoluta e foi-lhe tirada a vida, por toda a eternidade da sua presença. Só os seres humanos, na sua maioria, não reconheciam a vida que lhes tinha sido atribuída e culpavam a morte de todas as partidas.
Fecho os olhos e deito-me. Liberto o meu ser de preocupações e encho o peito de memórias, para as expirar na última respiração. Por fim, entrego-me à morte. Afinal, viver era assim: reconhecer o fim das oportunidades, e dar a vez a outro. Para que possa ser vivida a presença eterna, na simplicidade de uma estrela que se espalha no grandioso e interminável universo.


P.s Estejam atentos hoje que mais tarde sairão os resultados! 

1 comentário:

"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
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