sábado, 21 de abril de 2012

In the end


Eu vivo no início do Mundo. Ou no final. Não importa. Apenas sei que vivo. Vivo numa rocha, num oceano, num tronco, no coração de um animal. Nasci numa erva daninha que cresceu e se enforteceu. Cresci com uma gotícula de água, numa pluma de flocos de neve, numa nuvem. Caí como uma gota de chuva e estatelei-me como uma folha seca e inexpressiva. Pisaram-me como se eu fosse solo, porém levantei-me e voltei-me para o Sol, tal como um girassol. Aprendi isso, tal como um animal amestrado. Cresci como um pássaro, como um lobo, como uma chita... Cresci com contos de fadas, histórias de encantar, fábulas, histórias de terror, de cavaleiros sem cabeça e caminhantes hediondos. Cresci ao som de música proveniente da natureza, do som da chuva, do vento, das tempestades. Cresci graças ao sensacionismo. Nasci, e cresci a maior parte da minha vida. Porém, em cada história há um ponto final e entre a pontuação, uma história e, como todas as outras, tive um fim. Morri no cerne de uma floresta cerrada, numa selva imensa, num campo de centeio. Morri sozinha, morri acompanhada. Não sei nem interessa. Morri e acabou. Morri de velhice, de doença, de causas naturais. Não, nada disso interessa. Só sei que vivi. Não sei onde. Mas sei que vivi. 

1 comentário:

  1. O teu texto faz-me lembrar aquela frase "Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".

    Fizeste-me ir ao início dos tempos e voltar :D.

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"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
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