quinta-feira, 30 de junho de 2011

Quando isso vai acabar?


Hoje no corredor do colégio encontrei a última pessoa que queria encontrar, Leslie. Fechei meu ármario e baixei a cabeça para fingir que ela não tinha me visto, mas foi em vão, ela me conhece melhor do que ninguém. Ela sabe porque estou sempre usando roupas pretas, ela sabe porque deixei o cabelo crescer para ocultar meu rosto, ela sabe que não uso maquiagem no rosto por nenhuma moda emo ou gótica. Ela sabe dos gritos, pois mora muito perto de minha casa. 
O seu olhar perturbador e simultaneamente inquisitório pousou sobre mim. Desviei o meu olhar do dela, de modo a perceber que não era bem-vinda. Mesmo assim e contrariamente às minhas expectativas ela estacou à minha frente. Estendeu a sua mão e tocou-me no antebraço, pisando o hematoma. Recuei, tentando não mostrar que me tinha magoado. Porém, ela conhecia-me demasiadamente bem para não desconfiar. Ela conhecia-me melhor que eu próprio.
O seu olhar claro passou de inquisitório a piedoso. Preparou-se para falar mas não conseguiu.
- Leslie, por favor, vai embora. - pedi-lhe, açambarcando os meus livros e metendo-os desajeitadamente na mochila.
Leslie suspirou e uma onda de raiva parecia tê-la inundado.
- Quando vais perceber que isto tem de acabar? Quando? Vives num calvário. Tu és a vítima de duas pessoas que não se amam.
Sua raiva pareceu contaminá-lo, mas com uma intensidade maior juntamente a uma profunda dor.
- Eles se amam. Creia-me Leslie, meu pai não é um homem ruim. A bebida que faz isso com ele. Só acontece quando ele bebe e não sou vítima nenhuma. Apenas a defendo.
Indignada, Leslie move a cabeça negativamente.
- Só acontece quando ele bebe? Ou seja, sempre, certo? Eu e os vizinhos somos testemunhas dos gritos dele e dela todas as noites e dos gritos que tentas em vão abafar. E ainda vens me dizer que não é vítima? Por Deus, Julian!
- Nunca entenderás, não é? - ele dizia com os olhos já marejados, em seguida, agarrando a tempo do olho esquerdo uma lágrima que quis escorrer com as costas de sua mão. - Não espero mesmo que ninguém entenda.
Ele tentou seguir em frente, mas ela o impediu, desta vez, pousando a mão sobre seu ombro e olhando-o com pesar.
- Não Julian, ninguém entende. Ninguém vai entender onde está o amor de uma mãe que permite isso para seu único filho.
- Disseste tudo. - as suas lágrimas eram discretas, mas já não tão ocultas. - O único filho. O único que pode defendê-la.
- Julian, há justiça para isso! - quase gritou, chamando a atenção dos outros alunos que percorriam o corredor. - Não és obrigado a passar por isso. Quando entenderás que não és o salvador do mundo, nem da tua mãe, mas sim, uma vítima de um relacionamento doentio?
Desanimado, Julian encostou-se em um dos armários e, deslizando as costas sobre ele, acabou sentado ao chão, tão a vontade como se estivesse em seu quarto, com as pernas dobradas e os braços apoiados aos joelhos.
Leslie acompanhou-o abaixando-se para olhá-lo. Olhou profundamente em seus olhos azuis e percebeu uma outra coloração azul abaixo de um deles. Não se conformava ao ver aquilo.
Não sabia o que dizer…
- Julian…
Ele a olhou de viés, o olhar ainda lacrimejado e com apenas um questionamento que tirou-lhe todas as palavras que pudesse proferir:
- Leslie… Quando isso vai acabar?
Olá seguidores! Voltei! Devem estar a estranhar porque razão coloquei aqui um texto destes! Eu explico: o Tumblr tem uma funcionalidade muito boa, do meu ponto de vista, que é podermos submeter textos e, portanto, escrever em "parceria". Então este foi um dos meus textos em parceria com Christian V. Louis! Espero que tenham gostado porque eu gostei imenso! Vejo-vos depois no outro blog que anda em fase de remodelações!

5 comentários:

  1. O texto está lindo (:
    Mudaram de narrador intencionalmente? ;s

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  2. Gostei imenso deste texto. A primeira vez que li foi no blog do Christian e fiquei mesmo woow.
    Sabes o quanto gosto deste tipo de histórias.
    Já avançei mais na minha recente história.

    Kiss, Al*

    (com saudades de te ler *.*)

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  3. Aí está o nosso texto! O primeiro de muitos que ainda virão.

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  4. Já estou começando, logo lhe envio. ;)

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"Procura o que escrever, não como escrever." Séneca
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